Noches madrileñas…

O que a Espanha tem a ver com a música instrumental brasileira, especificamente com o Choro? Existiriam bandolins e violões 7 cordas perambulando pela extrovertida noite madrilenha assim, sem mais pudores? Como se explicaria este fenômeno? Quem estaria por trás disso? Um vídeo talvez seja a chave para que elucidemos tão profundas questões. Um vídeo, um detalhe, um momento. Certa feita, meados de novembro de 2009, eu encontrava em um palco de Madrid meu grande amigo Fernando de la Rúa. Violonista brasileiro de Itapeva, Fernando está em terras espanholas já há vários anos. Às altas noites madrilenhas, relembrávamos as noites cariocas, aquelas mesmas imortalizadas por Jacob do Bandolim havia exatos cinqüenta anos.

Quando nos conhecemos, em 2007, o Fernando já trilhava o inusitado percurso do violão 7 cordas flamenco (sim, é isso mesmo que você está lendo). E, não por acaso, este é o ingrediente o mais legal do tocar com o Fernando — ele consegue associar a excelência da técnica flamenca ao violão chorão brasileiro de uma forma tal que as duas coisas parecem naturalmente coerentes, funcionam, se encaixam. Soam.

Fernando, um autêntico chorão flamenco

Fernando, um autêntico chorão flamenco

O que ele faz é incontestavelmente Choro, mas tocado com um vocabulário musical alimentado por outras ramas. Imaginemos um autêntico chorão que tivesse crescido às margens do Guadalquivir; sua essência musical provavelmente seria também qualquer coisa nessa linha.

Enfim, naquela noite registramos Noites Cariocas de uma forma acústica, íntima, imprevisível. As lembranças daquela noite ainda são sentidas no ar por quem quer que caminhe pelas calles de Madrid, e ainda não se conhecem bem todas os efeitos que aquele concerto provocou à Espanha, à sociedade espanhola como um todo. Fato mais notável é que, poucos meses depois, a Fúria viria a ganhar seu primeiro mundial de futebol. Coincidência?

E o mais importante: o duo Fernando de la Rúa e Marco Ruviaro, que por ora se auto-denomina Duo Baguá, realizou sua estréia oficial no dia 30 de Setembro de 2010, no espaço ArteBar em Madrid, com grande receptividade e elogios por parte do público presente. Nós preparamos a gravação de tudo em áudio e em vídeo, mas… depois descobrimos que a câmera não estava funcionando…

Paciência, acontece!

E para concluir, antes que alguém se dê ao trabalho de me perguntar… não, o Fernando de la Rúa violonista não tem nada a ver com seu homônimo argentino, que outrora fora presidente dos nossos hermanos do sul…