Vals sans nom, de Denis 7 Cordas

Na interpretação do violonista brasileiro Marco Ruviaro (sim, eu mesmo), apresento em primícia esta peculiarmente bela valsa composta pelo grande Denis 7 Cordas ali pelos entremeios daquele que ora começa a ser um mero e longínquo ano de 2010, se não estiver eu me deixando levar pela incorrompíveis tentações do equívoco. Para ser sincero, eu nem sei se a Valsa realmente é sem nome. Depois eu pergunto pro Denis.

Clique e ouça este capolavoro composto por Denis 7 Cordas

Tendo sido esta gravação realizada nos antológicos Estúdios Chorísticos Irineu de Almeida (sediados na sempre pacata cidade de Torino, noroeste da Itália), no dia 24 de fevereiro de 2013, poder-se-não-ia deixar de mencionar o equipamento utilizado: um microfone, um banquinho IperCoop*, uma almofadinha Lufthansa, um violão todo manufaturado em madeira com requintes de nylon francês, e por fim um violonista com unhas em perfeito estado.

* Por razões ainda ignoradas mesmo pela Accademia della Crusca, na Itália todas as palavras que começam com H se escrevem sem H.

Sessão de gravações nos Estúdios Chorísticos Irineu de Almeida (Foto: Paolo Viviani)

Sessão de gravações nos Estúdios Chorísticos Irineu de Almeida (Foto: Paolo Viviani)

Análise da obra

O Professor Choro (www.bandodochorao.com) nos concedeu com exclusividade a análise estético-formal da obra. Ei-la:

Esta valsa começa com um sforzato ornamentale in levare, que apresenta o motivo temático da peça, sucedido por um arpeggio dolente do segundo grau da tonalidade principal (Lá menor), mantendo porém o andamento larghetto perlomeno tranquillo ma senza però pietà nel pestare le foglie d’autunno, o que nos oferece já desde o início o caráter introspectivo da peça. A primeira resolução ocorre em instância de cadenza in ritardo, cuja frase porta imediatamente a uma temporaria modulatio ao quarto grau, que pouco se afirma devido à inusitada e imediata ripresa della tonalità anzitempo logo no compasso seguinte ao acima mencionado.

A segunda seção da peça se deixa impor através de uma progressione sostenuta col basso pedale, o que vem por reforçar a dramaticidade do material motívico que está por aparecer logo em seguida — um arpeggio diminuito sulla dominante in anticipo (em português claro, um banal arpejinho a partir de ré sustenido). O cúlmine desta obra-prima vem deixar-se aparecer de forma elegante na chiusura ritenuta anziché interrotta senza digressione na tonalidade relativa, dó maior, o que causa o conhecido efeito de subito spavento sottolineato dalle terzine sincopate in discesa fortepiano, o terror dos cardíacos amantes das salas de concerto.

Não obstante a estimável exatidão e destra profundidade desta análise realizada pelo Professor Choro, quando da estréia desta peça o intérprete (eu mesmo) viu-se forçado a fazer um appunto aggiuntivo a tão soberba explanação:

— E, por fim, tenho observado que — afirmou solene Marco Ruviaro —, devido à sua rítmica pouco ternária, esta valsa tem sido afrontada com particular reticência pelos analistas musicais da corrente tradicionalista.